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sábado, 25 de julho de 2015
Memórias : Jarbas Ferreira Pires
A história de um tabelião e registrador notável
A reportagem da "Autêntica" viajou até a cidade de Arcos, a 200 quilômetros da capital mineira, com a missão de resgatar a memória de um brilhante notário e registrador, nascido há 105 anos. Parte importante da história da atividade, em Minas e no Brasil, foi escrita por Jarbas Ferreira Pires, que ocupou os cargos de escrivão judicial, tabelião e oficial dos registros públicos e faleceu em 1990, aos 91 anos.
Momentos da vida familiar, profissional social de Jarbas Pires são relembrados em depoimentos emocionados de filhos, amigos e conterrâneos. Pessoas que tiveram suas trajetórias influenciadas pelas idéias e ensinamentos de um profissional autodidata, que, apesar de ter estudado somente até o terceiro ano primário, deixou um legado de grande valor aos serventuários. Além de importantes obras publicadas - "Atos dos Tabeliães" e "Das relações de Parentesco" - Pires ensinou que a retidão e o cumprimento do dever são os principais valores da profissão. O seu exemplo enobrece e valoriza a atividade notarial e de registro.
Jarbas Ferreira Pires começou a trabalhar no Cartório de Paz e Notas do Distrito de Arcos, aos 23 anos, seguindo os passos do seu pai, Joaquim Ferreira Pires. Foi escrivão interino e, após dois anos, tornou-se Escrivão de Paz titular, cargo que exerceu até a instalação da Comarca de Arcos, em 1950. A partir de então, desempenhou as múltiplas funções das serventias judiciais e extrajudiciais, assumindo as atribuições de Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais, Oficial de Registro de Imóveis, Oficial de Registro de Títulos e Documentos, Oficial de Protestos e Oficial de Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
O pároco de Arcos e filho de Jarbas Pires, Padre Luciano Gontijo Pires, define o pai como um homem metódico, com uma linha de pensamento marcante e pedagogia exemplar. A veia jurídica, a organização e a fé profunda eram algumas de suas fortes características. Admirado por sua competência e honestidade, merecia a confiança da população para solucionar questões relacionadas ao Direito Civil, inclusive o de Família. “Todos o procuravam em busca de conselhos, de juízes a pessoas mais simples. Era consultado como se fosse graduado em Direito, mas sequer completou o terceiro ano primário”, conta Padre Luciano, deixando clara a forte presença paterna na vida da cidade.
Outro filho, o advogado Antônio Pires, se recorda da maneira especial de Jarbas Pires orientar as pessoas sobre os seus direitos. Certa vez, perguntado porque não teria sido advogado ou juiz, o pai respondeu mineiramente: “Posso, de maneira modesta e eficiente, servir melhor às pessoas como escrivão, tabelião ou mesmo conselheiro”. No Cartório de Paz e Notas e depois no antigo Fórum, Jarbas Ferreira Pires honrou ainda mais a sua profissão. “Ele deixou aos novos tabeliães e escrivães uma elevada mentalidade de organização e honestidade no cumprimento do dever”, afirma um dos grandes amigos de Jarbas e também sobrinho, Humberto Soraggi.
Profundo admirador de Jarbas Pires, Humberto Soraggi Filho lembra que o tio assumiu o cartório com muitas incertezas a respeito do exercício da profissão. Para resolvê-las, ia à sede da Comarca, em Formiga, para esclarecer dúvidas com os antigos serventuários. “Logo depois, concluiu que não precisava mais ir à Formiga. Passou a comprar livros e a estudar sozinho, cada vez mais”, conta. A persistência e a disciplina fizeram de Jarbas Pires um notário e registrador competente, além de grande conhecedor da língua portuguesa. Quando não encontrava respostas nos seus livros, fazia viagens para São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, somente com a finalidade de consultar bibliotecas.
Já aposentado, depois de tantos serviços prestados ao Estado, decidiu dedicar-se ainda mais ao estudo das Letras, sem deixar de atender e orientar as pessoas que o procuravam, sobretudo para questões jurídicas e até de ordem moral.
Jóia rara do notariado brasileiro
Quando, em 1973, assumi o tabelionato de notas em Belo Horizonte, a principal obra sobre prática notarial que tinha em mãos era a de Jarbas Ferreira Pires, que a Forense publicou com esta vaga e ampla referência ao autor: “Ex-tabelião e ex-Oficial dos Registros em Geral”.
Em 25 de janeiro de 1988, o Jornal do Brasil deu notícia de seu precioso dicionário à procura de editora. Só então fiquei sabendo que o genial autodidata estava aposentado como tabelião de Arcos, MG. Guardei o recorte do JB na expectativa de um dia homenagear tão especialíssima criatura de Deus, jóia rara do notariado brasileiro.
Pois o momento é este: não de glória vã, da qual fugia o modesto homenageado, falecido há 13 anos; mas sim de contribuir para perenizar seu labor paradigmático, em circunstâncias assaz adversas, e engrandecer a instituição notarial.
O trabalho jornalístico é da Scritto Assessoria em Comunicação e para ele colaborou Américo Portela, tabelião aposentado de Formiga, MG, a quem agradecemos.
João Teodoro da Silva
Coordenador da Revista Autêntica
Tabelião do 6º Ofício de Notas de Belo Horizonte/MG
Uma vida simples e sábia
Jarbas Ferreira Pires nasceu, viveu e morreu de maneira simples, humilde e sábia. Sua competência é ressaltada no sentimento e na observação do povo de Arcos, cidade do Oeste mineiro. A baixa escolaridade não foi obstáculo para a busca do conhecimento. Jarbas estudou o Código Civil e era profundo conhecedor das leis. No seu cartório, além do ofício específico, não era possível esquivar-se de aconselhamentos e pareceres gratuitos. Construiu sua carreira de serventuário tendo como base a confiança e a amizade de quem necessitava de seus serviços.
Era um patriarca não apenas em relação à família, mas ao seu povo e à cidade que tanto amava. Os amigos contam que o seu porte esguio, os gestos comedidos e o falar polido, decidido e franco constituíam o retrato do seu interior. “Era uma pessoa elegante nos modos e no trato com as pessoas”, destaca o advogado Antônio Gontijo Pires, um dos filhos de Jarbas.
Nascido no dia 4 de dezembro de 1898, Jarbas Pires foi um homem que ajudou a construir a história de Arcos. Durante quase 50 anos dedicou-se admiravelmente à esposa Rosa Gontijo Pires, a quem chamava carinhosamente de Adi. Pai de família exemplar, criou os seis filhos - Josué, Antônio, Joaquim, Lúcia, José e Luciano - para serem bons cidadãos e profissionais respeitados. Morreu no dia 2 de julho de 1990, aos 91 anos de idade.
Álbum de Família
A “Autêntica” reproduz, com exclusividade, fotos do acervo particular da família Ferreira Pires. Algumas das imagens foram feitas pelo próprio Jarbas, o primeiro da cidade a ter uma máquina fotográfica.
A Casa dos Pequeninos, um projeto social
O serviço à comunidade sempre norteou a vida de Jarbas Ferreira Pires, que passou aos filhos essa nobreza de caráter. A Chácara Bom Retiro, de sua propriedade, hoje abriga uma obra social, idealizada pelo Padre Luciano Gontijo Pires: a Casa Pequeninos de Deus, que foi construída há 15 anos no terreno doado pelos pais. Trata-se de uma instituição sócio-educativa, cultural e de formação religiosa. Dela fazem parte sócios, amigos, colaboradores, equipes de serviços e voluntários.
Dedicada a crianças e adolescentes, a instituição conta hoje com uma extensão, a Casa de Nossa Senhora da Paz, no bairro Floresta. São mais de 18 tipos de serviços prestados à comunidade, como creche em tempo integral, aulas de reforço, promoção da saúde, atividades artísticas, dentre outros.
A iniciativa hoje é conhecida como Obras Os Pequeninos, devido à abrangência de sua atuação na comunidade. Em janeiro de 2000, nasceu a Sociedade Lar e Vida Os Pequeninos, destinada a idosos e jovens.
Jarbas, na visão dos filhos e amigos
“Meu pai era um homem muito voltado para os filhos e a esposa. Sempre estava conosco e à noite costumava contar muitas histórias, sobretudo da Bíblia. Mais tarde, estudando Teologia, percebi que já tinha aprendido aquelas passagens, quando criança. Para mim, isso foi muito significativo.
Ele foi um pai que nos orientou dentro dos princípios religiosos, na tradição da família mineira. Sabendo que Arcos não tinha muitos recursos, nos enviou para outras cidades, para que estudássemos e seguíssemos a nossa vocação. Para ele, o estudo e a formação eram os maiores presentes que podia nos dar.
Quando manifestei o desejo de ser padre, ele me animou e disse que gostaria que eu investisse também em uma carreira profissional. Queria que eu me formasse e, quando estivesse mais maduro, decidisse sobre minha real vocação. Continuei meus estudos e me formei em Sociologia. Um dia, mostrando meu diploma, ele ficou muito feliz e disse: ‘agora você pode ser padre’. Depois da Sociologia, fiz Teologia, mas já estudava no seminário. Ele me incentivou muito.”
Luciano Gontijo Pires
Outro fato me marcou muito: quando assumi o Cartório, havia um processo de inventário vindo da Comarca de Formiga. O primeiro Juiz da Comarca notou que o processo estava desordenado e ninguém conseguiria terminá-lo. Então, não teve dúvida, chamou Jarbas Pires, mesmo ele não sendo advogado. Só assim foi possível terminar o trabalho.”
Humberto Soraggi Filho,
sobrinho, amigo e tabelião aposentado
“Quando comecei a trabalhar no cartório, Jarbas já era conhecido em todas as cidades vizinhas e ajudava os seus colegas a discernir qualquer assunto que precisassem no cartório. Foi o ‘baluarte’ da formação da nossa cidade, contribuindo muito para o trabalho de um bom tabelião. Todos aqueles que o seguiram conquistaram admirável conhecimento da formação cartorial. Como homem da Justiça e cidadão, ajudava plenamente a população, não apenas financeiramente, mas intelectual e moralmente. Com o tempo, Jarbas me comunicou que ia se aposentar e gostaria que eu continuasse o trabalho à frente do cartório. Com ele, aprendi a sinceridade, a honestidade e o modo de me conduzir dentro da sociedade.”
Francisco Dias de Carvalho Filho, amigo e
tabelião aposentado,
que substituiu Jarbas Pires no Cartório
dos Registros Públicos
“Ele tinha o interessante hábito de ilustrar os seus ensinamentos com provérbios, o que facilitava a memorização. Mesmo não tendo escolhido a profissão de serventuário, ele sempre me influenciou muito. Optei por ser advogado, mas o Tabelionato está diretamente ligado ao Direito. Ele se preocupava muito com o futuro profissional dos seus filhos e esse era um assunto freqüente em nossas conversas. Desde cedo, devido ao trabalho do meu pai, convivi muito com o Poder Judiciário e isso me ajudou muito”.
Antônio Gontijo Pires,
advogado e filho de
Jarbas Ferreira Pires
“Quando eu me casei, ainda muito jovem, fomos morar na casa do Sr. Jarbas e de D. Rosa. Ele me acolheu como filha e a nossa convivência diária me fez amadurecer. A família era sua grande alegria. Ele envelheceu com sabedoria e valorizava a vida: sabia se cuidar muito bem, caminhava, fazia exercícios. Sua vitalidade despertava a curiosidade de várias pessoas, que o procuravam pedindo dicas de alimentação e saúde. A confiança do povo em seus conselhos extrapolava a área do Direito.”
A nora Iêda Lúcia Gontijo Raimundo Pires, ao lado do marido,
o industrial José Gontijo Pires
Sociedade Pequeninos de Deus
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sexta-feira, 24 de julho de 2015
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